sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Capítulo 7 - Escolha difícil *

Eu peguei na mão dele, e nós subimos para o meu quarto.
-Sente-se. – eu e ele sentamos na minha cama, e eu continuei com a minha mão entrelaçada na dele.
-Ai Maria Luísa, vê se fala logo, tá me deixando nervoso...
-Não não, fique calmo. É bem isso que eu não quero, que fique nervoso. Vou repetir: NÃO QUERO REAÇÕES PRECIPITADAS, ouviu bem? Se realmente me ama, acalma-se, resolveremos isso depois. Apenas preciso te falar isto.
-Então fala logo, pra eu não sair destruindo tua casa inteira antes mesmo de você desembuchar.
-Se ficar essa agressividade toda eu não conto nem sob tortura!
-Ok. Agora fala, pelo amor de Deus.
-Guilherme, eu não amo só você. Shhh, fique calmo, deixe-me explicar.
-Que história é essa, Maria Luísa? Como você pode me amar e amar ele ao mesmo tempo? Tá viajando, tá louca? Olha aqui, não nasci pra ser corno não, tá ouvindo? Eu amo você, mas não vou suportar ver outro cara na tua cola não, beleza?
-Eu sabia que isso ia acontecer, meu Deus...
Eu não parava de chorar. Meu mundo estava desabando aos poucos. Eu tinha duas paixões, dois amores, eu não sabia o que fazer! Eu não suporto a idéia de ficar longe de Guilherme, mas só de pensar que terei de abrir mão de Felipe para ficar junto dele, já começo a me sufocar. O que farei agora?
-Por favor, me entenda!
-Me entenda o escambau! – ele disse agressivamente. – Não quero ser chifrado não! Ou ele ou eu! 
-Tá ouvindo isso Maria Luísa? OU ELE OU EU! Não tem essa de “apaixonada pelos dois”, ok? Não vou ser corno, to falando.
Eu chorava e esperniava. Deus, porque essa vida tão difícil? O que eu fiz para merecer toda essa dor? Quando eu penso que vou ser feliz, vem algo e demole todo o muro de felicidade que eu construí. Até quando vai ser assim?
-Mas meu Deus do céu, Guilherme! Entenda uma coisa: não é questão de ser corno, é questão de amar duas pessoas!
-Não, não vou entender isso. E não espere que eu entenda. Escolhe, um dos dois.
 -Guilherme, você tá duvidando do meu amor por você?
-Afff... quer saber? Eu to mesmo!
-Pensei que você realmente me amasse e me entenderia.
-O problema não é não te amar, e sim que eu não quero um par de chifres na minha cabeça.
-Ô seu cabeça dura! Ninguém aqui tá falando de chifres, ninguém aqui tá falando que eu to ficando com você e com ele ao mesmo tempo. E sim do amor incondicional que eu sinto pelos dois.
-Eu já disse, não quero saber desse menino na sua vida!
-Guilherme, vai embora. Vai fumar seu cigarro, beber um pouco. Porque é isso que você gosta de fazer, e é isso que te deixa assim, sem sentimentos. – eu levantei e comecei a empurrá-lo.
-Olha aqui Maria Luísa, isso não vai ficar assim, entendeu? – ele pegou nos meus braços e os apertou.
-Me larga, você tá me machucando. – eu gritei.
Ele me olhou com aquela cara de mau, que eu odiava. Lágrimas escorriam de meus olhos e desciam lentamente por meu rosto. Nós descemos, e eu parei na porta. 
-Guilherme! – eu gritei por impulso.
Ele apenas olhou para trás. Eu fiz sinal de “venha cá” com meu dedo.
-Você me ama? – perguntei com cara de criança.
-Para com isso. Você sabe que sim.
-Então me dá um beijo? Eu to precisando de amor hoje...
-Vai pedir pro seu outro “amor” lá, vai...
Ele disse isso e seguiu, me largando lá. No meio do caminho da porta pro portão, ele parou. Deu meia volta, e me agarrou pela cintura pra me beijar.
Depois de me largar, ele nem deu tchau, saiu pela porta e sumiu. Eu demorava algum tempo para voltar ao chão depois que o Guilherme me beijava. Esse Guilherme ainda me mata do coração.
Da escada, ouvi meu celular tocando. Corri para atender:
-Alô?
-Alô, Malu?
-Sim?
-É o Felipe.
-Oi Fe. 
-Oi. Contou a ele?
-Ai, contei. Nem sabe como foi difícil, Felipe. Eu to chorando até agora. Ele se revoltou, ficou estressado.
-Ele queria te bater, foi agressivo? – senti a pontada de preocupação na voz de Felipe.
-Não, nada disso, fique frio quanto a isso.
-O que você vai fazer?
-Sinceramente, não sei.
-Então, tenho que ir. Beijo.
-Beijo, tchau.
Desliguei e fui ver se tinham tarefas. Graças à Deus, não tinha. Afinal, não estava com cabeça para falar de escola.
A noite chegou, jantei e fui dormir. Acordei naquela manhã de quinta-feira morrendo de dor de cabeça, e com o rosto molhado. Isso é vida, meu Deus?
Fui pra escola e sentei em qualquer lugar. Como faço todos os dias, dei uma olhada geral na sala, pra ver quem foi e quem faltou. E no último lugar da fileira, quem eu vejo? Felipe. Ai.
Fiquei sem ação. O que faria? Iria cumprimentá-lo? Mas Guilherme estava ali.
O que faço agora? Minha vontade era de sair correndo, largar professor, matéria, Guilherme, Felipe e todo mundo e me matar de algum jeito. 
Felipe teve que entrar em alguma escola, e como essa é a mais próxima de nossas casas, ele entrou nessa mesmo. Ai meu Deus. A aparência de Felipe não estava boa. Ele parecia triste. Olha quem fala né, Maria Luísa?, pensei.
Eu estava rezando para o sinal não bater, e assim que permaneceria lá, imperceptível, sentada na cadeira sem ninguém reparar em mim. Preferia isso do que enfrentar a avalanche que caía sobre mim lentamente.
E então bateu o sinal da segunda aula, e eu tremi. A aula passou absurdamente rápida, e isso me deixava preocupada. Quando olhei no relógio, eram 8:38h. Lembrando que a aula termina 8:40h. Parece que a hora de enfrentar os dois cara a cara chegou.
Como uma bomba jogada ao meu lado, o barulho do sinal para o intervalo me fez pular. Queria poder parar o tempo.
Senti alguém me cutucando, e olhei para trás. Ai. Ai. Ai. Ai. AAAAAAAAAAAAAAAAI! Era Felipe.
-É você? Não acredito que estudamos na mesma classe!
Ele me puxou e me deu um abraço de urso, e me deu um beijo em cada bochecha. Eu agi naturalmente e beijei suas bochechas também.
-Bem, eu sei que ele está aí...vou deixar vocês sozinhos, até você se resolver com ele e ele se acalmar.
-Ai, obrigada Fe, por ser compreensivo. Beijo. – me virei e joguei um beijo pra ele.
Não vi Guilherme, e então fui para o pátio procurá-lo. Estava andando tentando achá-lo, e de repente alguém pega em minha cintura e me roda. Guilherme, quer me matar do coração toda vez que me encontra.
-Quer me matar do coração? – repeti o que disse em pensamento.
-Quem é aquele cara de abraçou na sala? Vai falando.
-Não se faça de desentendido, Guilherme. Você sabe muito bem quem é ele.
-É o tal menino que você “também ama”? – senti a ironia em sua voz.
-É, é o menino que eu também amo.
-Eu já disse que não quero ele se engraçando pra cima de você.
-Ele só me abraçou!
-Só te abraçou e só te deu um beijo em cada bochecha, e eu vi o jeito que ele te olhava. Eu to falando, to falando, tu tá me traindo com esse moleque.
-Ai Guilherme, para, meu! Eu já to sofrendo por amar vocês dois ao mesmo tempo, e vem você pra me dar mais preocupação? Pelo amor de Deus. Não tem dó de quem você diz amar? 
-Malu, sem dar sermão! Se você me amasse mesmo já teria deixado ele pra trás.
-Cacete Guilherme, qual é teu problema, cara? Será que você não entende que eu te amo? – eu estava gritando. – Só que também amo Felipe. É tão difícil de se entender? Eu sei que não é comum, não é normal, mas ninguém tá falando que eu não te amo! Eu to dividida.
-Não quero saber disso! Quero você só pra mim!
Eu fiquei parada, o encarando. Não tinha o que falar!
-Então é ele, né? É aquele menino. Já marquei já.
-Guilherme, pelo amor de Deus, não faça nada.
-Depois de 3 cigarros e 2 cervejas eu não respondo por mim.
Na hora eu quis me matar.
-Quem você mais ama? Eu ou a tua maconha diária?
-As duas. Eu to dividido. – odeio quando ele faz essas ironias inúteis.
-Ah, é? Pelo menos eu não to te destruindo a cada dia.
-Ok então, você pode ficar dividida e eu não?
-Não quando você tá divido entre uma pessoa que você diz amar e uma droga que só acaba com você a cada dia. 

 * morram de curiosidade ...

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