sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Tá começando a ficar TENSO né cla ? .q

Não sou muito supersticiosa, mas acho que hoje só vão me acontecer coisas ruins. Eu estou com uma má intuição, uma voz de lá do fundo está me dizendo que esse dia não vai ser bom.
Mas enfim, depois das três aulas, minha mãe foi me buscar e nós voltamos pra casa. Para ser sincera, não estava com um pingo de fome.
Comi sem nenhum gosto e subi. Minha mãe foi trabalhar, e eu fiquei lá sozinha, o dia inteiro. Uma sexta-feira chata, cheia de tédio e com um clima pesadíssimo.
Fiz todas as minhas tarefas, mas com o coração na mão, de preocupação com o Guilherme. O que será que estava acontecendo?
Obvio que eu também estava pensando em Felipe, mas sei que ele está seguro, pois tem a cabeça aberta e não se mete em confusões. Ele é certo. Mas Guilherme, era sempre um preocupação em dobro. Eu nunca sabia por onde ele andava, o que fazia (certas vezes eu já poderia ter idéia, do jeito que ele se droga o dia todo) e com quem andava.
E fiquei o dia inteiro sem notícias de Felipe e principalmente de Guilherme. Assim o dia acabou. 
Meus pais chegaram, fui jantar e depois dormir. E tive outro pesadelo, extremamente nítido e absurdamente real.
Eu sonhei que eu estava no terraço de um prédio muito alto. Eu conseguia ver praticamente a cidade toda de lá, e estava um vento muito forte, que me fazia quase cair. No canto deste terraço, havia uma escada. Dessa escada, subiu um garoto encapuzado, não via seu rosto. Senti meu rosto molhado.
Ele foi rastejando para a borda do terraço e eu só chorava. De repente, ele pulou. Eu gritava e chorava por ele. E então eu pulei. Quando vi que ia cair na rua, acordei.
Acordei ofegando e suando, dando graças a Deus por ter sido um sonho. Ou melhor, pesadelo.
Não é normal. Eu nunca tenho pesadelos. Isso era algo de ruim se aproximando. E porque eu tive pesadelos em duas noites seguidas? E porque eu não via o rosto do menino que morria? E porque Guilherme não me deu sinal de vida nos últimos dois dias? Eu precisava falar com ele agora.
Achei melhor me acalmar. Toda as decisões precipitadas que eu tomei na minha vida foram frustradas. Acalme-se. Amanhã vocês se falam, tranqüilizei-me. 
Me cobri e virei para o outro lado. Logo peguei no sono novamente.
Assim como na noite passada, depois de ter acordado com o pesadelo, dormi um resto de noite sem sonhos. Acho que dessa vez gritei menos, ou meus pais estavam dormindo um sono mais pesado, porque senão ele teriam vindo no meu quarto ver qual era meu problema.
Mas enfim, acordei e olhei no relógio imediatamente. Eram 11:42h.
Ainda bem que hoje é sábado. E eu vou procurar notícias do Guilherme. Estava mais tranqüila pois Felipe ia voltar amanhã.
Levantei e já fui direto almoçar, a mesa já estava posta. Sentei epara comer, meu prato já estava feito na mesa. Minha mãe puxou assunto:
-Filha, como você tá?
-Estou angustiada, mãe. Não sei porque. Mas tenho que ficar bem.
-O que será que está acontecendo com você? Eu ouvi alguns gritos esta noite, mas não sabia se estava sonhando ou se era real. – ela refletiu.
-Você ouviu? Era eu mesmo. Tive outro pesadelo, com outro garoto morrendo.
-Que estranho, filha. Espero que melhore.
-Obrigada mãe.
Almocei mais tranqüila depois da conversa. Eu já ia subindo, quando ouvi uma buzina lá fora.
-Pode deixar, eu vou ver se é aqui. – disse minha mãe. 
 Eu subi para a varanda e vi um carro prata parado, e minha mãe estava apoiada na janela do banco de passageiro do carro. Rapidamente, minha mãe se desapoiou do carro e entrou em casa. Eu fui descendo a escada.
-Quem era mãe?
-Filha, vem cá comigo, senta no sofá. A gente precisa ter uma conversa.
Eu gelei.
Um homem entrou atrás de minha mãe, e eu o reconheci. Ele estendeu a mão e se apresentou:
-Meu nome é Marcelo, lembra de mim? Sou o pai do Guilherme.
-Prazer, Maria Luísa. – eu dei um sorriso forçado.
Eu, Marcelo e minha mãe sentamos no sofá.
-Mãe, pelo amor de Deus, me fala isso logo.
-Calma, fique calma. Sem ataque de nervos.
-Fala tudo de uma vez, mãe!
-É sobre o Guilherme.
-O que tá acontecendo? – eu falei, totalmente confusa.
-Eu fiquei sabendo da existência dele agora. O Marcelo disse que ele quer que você vá no hospital visitá-lo, e foi ele quem buscou você para você e o Guilherme saírem, por isso que ele veio até aqui, pois ele não tem o seu telefone. 
Eu já estava chorando muito.
-Mas porque ele tá no hospital? – eu quase gritei, desesperadamente. O que aconteceu com o Guilherme?
-Ele teve um ataque cardíaco ontem, por isso faltou na aula. Ele já está no quarto, e quer ver você.
Então era isso. Os dois pesadelos, a angustia, a falta dele na escola. Eu sabia que tinha algo de errado.
De repente, pareceu que algo chegou e levou meu ar embora, eu não conseguia respirar. Eu apenas chorava.
-Mãe, me leva lá agora, por favor! – eu já estava gritando. 
Eu subi e coloquei qualquer roupa, e minha mãe e eu entramos no carro com Marcelo. Nós então voamos para o hospital.
Eu entrei lá secando minhas lágrimas, e eu e minha mãe sentamos na sala de espera. Do nosso lado estava a mãe de Guilherme, a Sabrina, que era muito simpática. Ela também chorava muito, mas deu um jeitinho de ser legal comigo e com minha mãe. Marcelo disse que ia pedir para entrarmos no quarto de Guilherme.
Esperamos uns 10 minutos aproximadamente, e então a enfermeira nos chamou.
-Sabrina, não quer nos acompanhar? – ofereceu minha mãe.
-Não, podem ir. – ela deu um sorriso forçado.
Então a enfermeira nos direcionou até o quarto de Guilherme, e eu me controlava para não chorar e preocupar Guilherme.
Ela nos abriu a porta, e entramos no quarto. Guilherme estava acordado, e quando me viu deu um sorriso.
-Vou deixar vocês sozinhos. Se precisar de alguma coisa, me chame, e eu comunico a enfermeira. – minha mãe disse e Marcelo a seguiu.
Eu me aproximei de Guilherme, tentando secar minhas lágrimas insistentes e teimosas.
-Você está bem?
-Melhor agora. 
Eu sorri entre lágrimas.
-Eu estava morrendo de preocupação já ontem. Sabia que tinha algo errado, você nunca falta.
-Não fica preocupada não. Tá chegando minha hora. Eu vou deixar você ser feliz, finalmente. – ele riu sem humor algum.
-Eu não quero ser feliz sem você. – eu disse entre soluços.
-Para de chorar, vai.
-Não enquanto você não estiver com saúde correndo para me beijar.
-Se é isso que você quer... – ele tentou se levantar para me dar um beijo.
-Não, não! A gente ainda tem a vida inteira. – eu sorri.
-Você sabe que eu não vou durar.
-Não fala assim!
Ele olhou para baixo. Estava com o rosto cansado, abatido.
-Você ainda me ama? – ele perguntou.
-Eu vou te amar pra sempre, seu bobo.
Peguei em sua mão e ele sorriu.
-Bom, a enfermeira já te medicou? 
-Já.
-Quer que eu fiquei aqui?
-Não quero que me veja morrer.
-Você é tão idiota. Você não vai morrer.
-Até no meu leito de morte você me xinga de idiota.
-Primeiro, não é seu leito de morte. Segundo, você é sim um idiota. É numa hora dessas que você tem que pensar em viver. Não na hora de pegar o cigarro.
-Ok, senhorita lição de moral.
-Você tem problema, seu maconheiro.
-Quantas vezes vou ter que te falar que você me ama, mesmo eu sendo um maconheiro desgraçado?
-Nenhuma. Porque eu sei que amo você. Senão amasse nem estaria aqui.
-Eu não entendo isso.
-Não entende o que?
-Vocês chegam aqui morrendo de chorar, e depois falam pra mim que eu não vou morrer. 
-Claro, quando vim pro hospital pensava que você estava em estado gravíssimo. Como eu não sou média nem nada disso, tudo que eu tenho que fazer é chorar. – sorri, triunfante.
Eu sempre calava a boca de Guilherme. Ele ficava quieto sempre, porque sabe que está errado.
Do nada, Guilherme começou a reclamar de dor:
-Nossa, que dor é essa!
Fiquei apavorada. Ele vai enfartar.
-É no peito?
-É – ele estava quase se contorcendo de dor.
-Eu já volto, vou chamar a enfermeira!
Eu disparei pela porta do quarto e fui quase gritando por minha mãe. Não fazia a menor idéia de onde estava a enfermeira.
Cheguei na sala de espera desesperada.
-Mãe, o Guilherme tá sentindo dores no peito, chama aí uma enfermeira, pelo amor de Deus.
Minha mãe e Marcelo se levantaram rápido para procurar uma enfermeira e eu fui atrás. Eu acho que eles deveriam procurar não só uma enfermeira para Guilherme, mas uma pra mim também. Meu coração estava saindo pela boca.
Minha mãe achou uma enfermeira, e eu os levei até o quarto de Guilherme, que se contorcia de dor. 
A enfermeira fechou a porta na minha cara, e eu comecei a chorar.
Minha mãe pegou na minha mão e tentou me reconfortar:
-Filha, fique calma. Não vai ajudar nada você se desesperar agora!
Eu só soube abraçar minha mãe, aos soluços.
-Venha, vamos sentar na sala de espera. Assim você se distrai um pouco.
Olhei para Marcelo e Sabrina, que andavam ao meu lado, e haviam lágrimas em seus olhos. Eu estava mais desesperada a cada minuto. Eu não conseguia ficar quieta, ficava quicando.
Minha mãe puxava assunto com Sabrina, e eu estava prestes a levantar e sair xingando. Que demora!
E então, ouvi Sabrina falar para minha mãe:
-Espere aí que eu vou ver se Guilherme já está melhor.
Eu fiquei lá, mais impaciente que nunca. Passaram-se aproximadamente uns 8 minutos esperando ansiosamente.
Vi Sabrina vir para a sala, e sua expressão era tranqüila. Ela não parecia estar preocupada. Menos mal. Sabrina era muito expressiva, dava para ver as emoções dela no olhar. Se por acaso houvesse algo de errado e ela sorrisse, eu podia ver em seus olhos que algo estava errado. 
Mas enfim, ela se sentou e falou para minha mãe:
-Graças a Deus, Guilherme está melhor. Acho que ele recebe alta amanhã mesmo.
Eu sorri fervorosamente, fiquei muito feliz.
-Bom, Sabrina. Já estamos indo.- minha mãe disse. 
-Vamos, vamos. Só espera rapidinho que o Marcelo já está saindo do banheiro e te leva até lá.
-Imagine, claro que não. Nós pegamos um ônibus, táxi, está tudo bem, Sabrina.
-Não, não, fique tranqüila, nós vamos te levar até sua casa.
-Claro que não, nós já estamos indo, não queremos atrapalhar.
-Mas não atrapalha nada! O Marcelo está livre, só eu que vou ficar aqui para dormir.
-Pode deixar, não vamos dar trabalho para seu marido.
Depois de muita insistência, decidimos ir de táxi.
-Deixe um abraço para seu marido. Beijo, até mais! – minha mãe disse e a deu um beijo no rosto.
Eu fiz o mesmo.
-Fico grata pelo apoio. Adorei conhecê-la. Boa noite! – disse Sabrina.
-Quando precisar, estamos aqui. Já deixei meu telefone com você, caso aconteça algo, é só ligar.
Fomos para um ponto de táxi perto do hospital e então chegamos em casa.
Estava sem apetite nenhum, apesar de saber que Guilherme estava melhor. 
Minha mãe quis jantar, eu quis subir. Fui logo pro meu quarto, e vi que havia uma mensagem no meu celular:
“Oi amor. Amanhã eu chego de viagem. Posso ir na sua casa, ou você quer ir na minha? Faça o que quiser. Um beijo, amo você.”
Eu sorri. Não sabia nem o que dizer para Felipe. Oi, Guilherme teve um enfarto e não vai rolar, tchau. Claro que não, Maria Luísa.
Enfim, eu tinha que dar um jeito nessa história.
“Oi Fe. Está tudo bem? Aqui aconteceu algo difícil pra mim, mas a gente conversa depois. Mas pode deixar, que eu vou na sua casa. Beijo, também te amo.” Enviar.
Liguei meu computador e fiquei vendo umas fotos antigas. Eu tinha três pastas. A pasta de fotos com família e amigos, a de Felipe e a de Guilherme. Primeiro vi a da família e amigos. Tinham algumas fotos minha com Ester. De quando a gente foi a praia juntas. Havia uma foto de nós duas melecadas de sorvete, e lembrei desses velhos tempos em que nosso único medo era um vermelho no boletim. Tinha fotos minhas com minha família em nossa chácara, em viagens, e até mesmo no navio, onde tiramos muitas fotos. 
Tinha fotos minhas descendo na boquinha da garrafa, porque me desafiaram isso quando eu estava brincando de verdade e desafio. Comecei a rir só de lembrar. Porque tudo isso teve que mudar? Não sei se isso acontece com todo mundo, mas o amor me deixa dependente...
Saí dessa pasta e fui para a do Felipe. Tinha uma foto nossa no navio com a pulseira que ele me deu. Automaticamente, olhei para meu pulso. No lugar aonde ficava a pulseira desde as últimas férias. Apesar de não precisar da pulseira para lembrar de Felipe.
Fui passando as fotos e tinha outra da gente dançando, que eu pedi para a Eliza (aquela amiga que fiz no navio) tirar para recordarmos.
 Tinha várias fotos nossas sorrindo, nos beijando, fazendo caretas. E eu fiquei lá suspirando. Depois de passar todas as fotos, cheguei finalmente na pasta do Guilherme.
Tinham poucas fotos, mas todas me faziam suspirar também. Eu estava sentindo sua falta, inexplicavelmente.
Fechei os arquivos e senti meu rosto molhado. Era como se essas recordações fossem de anos atrás. E meu tempo longe de Felipe e Guilherme parecia mesmo de anos.
Era impressionante como eu sentia falta desses dois. O certinho e o bandido., pensei, sem conseguir escolher. Seria realmente bom se eu pudesse escolher. Isso tudo não estaria acontecendo.
Mas aí, me bateu um vazio...no estômago. Fome. Desci pra cozinha, procurando qualquer coisa rápida e prática. Pipoca de microondas!
Depois que ela ficou pronta, subi e comecei a comer vendo televisão. Peguei no sono e dormi de roupa. Acordei com a TV ligado, eram 2:45h. Arrumei minha cama e dormi daquele jeito mesmo.
Graças a Deus, dormi uma noite sem pesadelos. Mas tive um sonho.
Sonhei que estava deitada na minha cama, comendo pipoca e vendo televisão (haha), quando Felipe e Guilherme entram no meu quarto juntos. E aí veio um de cada lado, e me deram um beijo, um em cada bochecha. E depois a gente ficou conversando, sem brigas, sem ciúmes, só com muita risada e diversão !
 Acordei com um sol forte, mas acordei feliz. Hoje seria um dia bom, se ocorresse tudo como planejei. E como eu planejei? O Guilherme saindo do hospital com saúde e Felipe voltando pra cá. Tudo bem que os problemas não iam estar resolvidos por completo, mas seria uma dor a menos se o que eu planejei se realizasse. Agora é só esperar.
Eu estava ativa. Não estava afim de ficar vendo televisão o dia todo. Queria andar. Mas o que me deixaria mais feliz seria se o Gui começasse a fazer tratamento  pra parar de fumar e usar drogas .
Troquei de roupa, e decidi arrumar meu quarto. Decidi mudá-lo. Era uma boa forma de renovar e de passar o tempo sem ficar pensando em coisas negativas.
E é isso que vou fazer. Vou começar pelo guarda-roupa.
Tirei todas as roupas que não usava mais e separei. Deixei meu guarda-roupa quase vazio. Ia doar para uma instituição, ou sei lá.
Depois fui para o sapatos, e fiz o mesmo. Tirei o pó dos móveis, passei um pano no chão, troquei a roupa de cama, acertei meu baú, doei roupas e sapatos, acertei tudo que estava errado, e sabe que horas são? 10:30h.
Depois que terminei, já estava cansada e suando. Tomei um banho, fiz hidratação no cabelo, depois sequei e fiz chapinha. Ficou bonito, modéstia a parte.
Depois, peguei minhas coisas de unha e tirei cutícula, lixei e pintei. Fiz tudo, pé e mão.
Porque hoje era um novo dia. 
Era 11:40h e minha mãe tinha acordado. Ela fez um almoço e eu e meu pai fomos comer. Subi novamente e liguei para Felipe. Ele atendeu:
-Alô?
-Fe?
-Malu! Que horas você vem?
-Tá ocupado agora?
-Não, pode vir.
-Tô aí em 10 minutos, beijo.
-Beijo.

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