sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Capítulo 9 – Lado Negro de Guilherme; ACABEEI POR HJ, domigo tem +

Às 19:00h, Guilherme e seu passaram para me buscar, e nós fomos. Seu pai nos deixou no shopping, e nós ficamos lá passeando. Tomamos sorvete, conversamos. Aí então, depois de andar um pouco, Guilherme encontrou “sua galera”, e ficou conversando com eles. Me senti meio excluída, sei lá. Guilherme sequer me apresentou pros seus amigos. Mas vou esquecer essa parte.
Guilherme falou que iríamos atrás do shopping, até aí eu aceitei. De repente, surgiram mais duas pessoas, com duas garrafas em cada mão. Uma jogaram para Guilherme:
-Quer um gole, Malu? – Guilherme me ofereceu a cerveja.
-Não, obrigada.
Eu realmente estava insegura. Não queria ficar ali, com aquelas pessoas. Estava me dando nojo, não sei, algo não estava certo.
Mas aí, aconteceu algo que mais me deixou chocada. Eu sabia que Guilherme bebia e usava drogas, mas não sabia que ele usava em lugares tão abertos, e o pior: na minha frente.
Ele tirou do bolso, um plástico vários cigarros dentro. Fiquei assustada e traumatizada, nunca tinha visto isso antes. Minha vontade no momento era chorar e sair correndo, mas eu tinha uma solução mas eficaz pra isso.
E depois aconteceu algo mais chocante, que me fez sair de lá chorando.
Uma garota sentou no colo de Guilherme e começou a se esfregar nele. Eles se beijaram na minha frente.
-Quer um cigarro, amor? – disse Guilherme, depois de várias tragadas.
-Não quero.
O cheiro já estava me fazendo mal, me deixando enjoada. Sem contar a insegurança. Fingi que meu celular estava vibrando, e levantei e fui em outro lugar para fingir que estava falando com minha mãe. Falei que ela ia na entrada do shopping me buscar. Nem quis beijar Guilherme, e ele nem ligou, já estava sob o efeito.
Peguei qualquer taxi e fui pra casa chorando. Estava chocada demais.
Sabia que a droga causava efeitos alucinógenos, mas nunca pensei que Guilherme iria me trair na minha frente.
Me troquei e deitei na cama, refletindo sobre a noite de hoje. Achei que Guilherme não seria capaz de se drogar na minha frente.
Tinha até me esquecido que Felipe havia viajado, e então fiquei esperando uma ligação dele.
Peguei no sono e dormi a noite inteira, sem insônia, sem acordar por um momento. Acordei de manhã e fui pra escola.
Me sentei e bem prestei atenção nas duas primeiras aulas. Pensei também em Felipe, queria deixar minha matéria em dia para que ele não rodasse quando voltasse da viagem. E então fiz tudo que tinha que fazer, prestei atenção e fiquei concentrada demais para verificar se Guilherme estava vivo ou morto.
Bateu o sinal para o intervalo, e eu simplesmente saí. Nem me preocupei em encontrar Guilherme. Depois da noite de ontem, fiquei magoada por vários fatos.
Eu estava andando em direção ao banco, para encontrar Ester. Fazia tempo que não conversava com ela.
Mas aí alguém me puxou pelo braço. Nem preciso falar quem era:
-Vai me ignorar hoje, é? – ele disse, com aquele jeito grosso.
Guilherme quer me deixar louca, ou o que?
-Não Guilherme, não estou te ignorando. Quem deveria se sentir ignorada sou eu. – eu reclamei, mostrando-me injustiçada depois da noite passada.
-O que te aconteceu, Malu? – ele perguntou, sem demonstrar nenhum interesse e paciência para me ouvir.
-Eu simplesmente odiei sair com você ontem. Minha mãe não me ligou, e não foi me buscar. Era uma desculpa pra deixar você e seus amigos lá fumando sozinhos, porque eu não tava agüentando mais!
-Não tava agüentando o que, Maria Luísa?
-Não tava agüentando aquele cheiro de cigarro, bebidas, eles só falavam besteira, e você também. Você começou a me ignorar, a fumar que nem um louco
-Qual é o problema em fumar?
-O problema é que eu não te dou 7 anos de vida se você continuar assim. Vai morrer logo. Está se destruindo.
-Não ligo. Prefiro te uma vida curta e boa do que uma longa e chata. O importante é que eu fui feliz. Não ligo se morrer cedo.
-Mas eu ligo! Seu egoísta. Só pensa em você. Imagina eu e sua família, como ficaremos se você morrer cedo?
-Ninguém mandou vocês me amarem...
-Deixa de ser grosso. E você pensa que eu não vi você agarrando aquela vadia lá, né? Voltei pra casa chorando, se você quer saber.
-Você viu aquilo?
-Não não Guilherme, eu vi o Barney comendo um gato –‘ . Se eu to falando que eu vi é porque eu vi, idiota!
-Foi só um beijo, eu tava bêbado e drogado.
-Olha aqui! – eu disse e cheguei mais perto, enfiei o dedo na cara dele. – Se você não tomar jeito, eu vou começar a ficar com você e com o Felipe ao mesmo tempo, e se você vier falar alguma coisa, eu acabo com tudo. Você pode me trair na minha frente e eu não? Me poupe!
-Pelo menos você não usa drogas.
-Nem você devia usar. E para de me desafiar, tá ouvindo?
-Você parece minha mãe, às vezes, sabia?
-Vai se ferrar!
O sinal bateu e nós subimos pra sala.
Continuei prestando atenção nas aulas, e tudo passou muito rápido, como sempre. Fui embora, e minha mãe disse que não poderia ir me buscar e que eu tinha que voltar de ônibus. Acho que vou ter que rezar um terço. Toda vez que volto de ônibus acontece uma desgraça. Eu ia subindo a rua quando percebi que alguém me seguia. Gelei. Ninguém da escola subia aquela rua, e agora era horário de almoço. Eu dei uma pequena olhada pra trás. Era o Guilherme. Ele foi andando e pegou na minha mão.
-Você me assustou, sabia? – eu disse.
-Eu ouvi você falando com sua mãe. Decidi ir com você até sua casa.
Eu não respondi e soltei minha mãe da dele. Era 11:40h e o ônibus só ia passar 12:30h. Vai demorar muito.
Fiz questão de fazer o mesmo jogo que fiz no último dia em que ele foi em casa. Sentei na outra ponta do banco do ponto de ônibus e fiquei quieta, fingindo ignorar sua presença. Obvio que ele ficava revoltadíssimo comigo, e eu adorava. Vi de canto de olho ele bufar.
Fingi estar relaxada, e o ignorei ao máximo. Esperei ele vir falar comigo. O que não foi fácil. Quando olhei no relógio eram exatamente 12:05h. Esperei, esperei e só depois de 25 minutos que ele se manifestou:
-Porque você faz isso comigo? – ele disse, com cara de dó. Fechei minha mão, e me controlei pra não dar um murro na cara dele. Eu não ia cair em seus truquezinhos baratos de novo. O idiota teria que ser ele pelo menos uma vez na vida, pô.
Não sei como conseguia gostar de Guilherme. Ele era uma criatura repugnante, irritante e...linda. É isso que mais me revolta.
-E seu eu te pedir desculpas?
-Desculpa não cura dor. – fiz cara de triste, pra ele ficar bem arrependido. Se é que aquele monstro é capaz de se arrepender. Acho que não. Mas ignoremos essa parte.
Ele se aproximou para me abraçar, mas eu permaneci quieta no meu canto.
-Não vai me pedir desculpas? – eu disse.
-Você diz que desculpa não cura dor. Então vou ficar quieto.
-Humpf! – fechei a cara. Olhei no relógio e eram 12:22h.
-Ok, eu te peço desculpas. Desculpa seu amorzinho lindo?
-Desculpo. Agora desgruda! Ainda to muito magoada com você, Guilherme.
Ele logo tirou seus braços de mim. Quem vê pensa que eu não estava gostando. Mas eu precisava me fazer de difícil. Sei que ele está sentindo minha falta.
-Depois o grosso sou eu!
Eu o ignorei e fiquei quieta. E então o ônibus chegou e nós entramos. Eu paguei pra mim e ele pagou o dele.
Sentamos lá no fundo, e quando ele tentava pegar na minha mão, eu soltava. Você vai ter o que merece, ah se vai!, pensei.
Chegamos em casa, e eu estava morrendo de fome.
Em cima da mesa da cozinha havia um bilhete da minha mãe, e lá dizia que era pra eu esquentar a comida que estava dentro do microondas, pois ela estava com muito serviço na confecção. Ótimo, ela não estava lá.
Eu tive que dar almoço também para Guilherme, que comeu mais que eu.
-E sua mãe? Sabe que está aqui?
-Não. Eu já fico na rua o dia inteiro mesmo. Quando chegar falo pra ela que tive que ficar fazendo trabalho.
-Seu maconheiro.
-Maconheiro que você ama. – ele rebateu.
-Quem te disse?
-Você!
Eu levantei e fui lavar a louça, e ele deitou no sofá. Folgado.
Lavei, enxuguei e guardei tudo sozinha, enquanto Guilherme via TV.
Tirei meu tênis, peguei o controle na mesinha e deitei. Guilherme estava deitado no sofá ao lado.
Eu vi ele levantando, e comecei a mudar de canal.
Ele já ia querendo vir me abraçar, mas eu me esquivei, de novo.
-Você vai ficar pra sempre assim? Me ignorando? Que que você tem?
-Tô magoada, só. – respondi, secamente
-Sei...Eu já te pedi desculpas. Eu sei que você tá com saudades dele.
-O que? – eu olhei pra ele, o fuzilando com os olhos.
-Isso mesmo que você ouviu. Esse Felipe que tá te fazendo falta. É porque você é dividida e eu não sou suficiente pra você, né?
-Para de ser idiota. Não tem nada com o Felipe. Estou chateada por você ter beijado aquela menina e se drogado na minha frente.
-Mas eu já pedi desculpas! – ele insistiu.
-Mas eu continuo triste! Por isso que eu to assim. Entendeu agora?
-Continuo sem entender. O que você quer que eu faça pra ficar você ficar melhor? Quer que eu vá embora e suma da sua vida pra abrir caminho pro certinho que você tanto ama?
Perdi a paciência e levantei, já estressada e gritando.
-Guilherme, se é pra você ficar me irritando e me deixando mal com a minha vida, nem fica aqui!
-Quer que eu vá embora?
-Pra mim tanto faz! – falei, indiferente.
-Tá bom, então eu vou.
Adora me fazer de idiota.
-Fica aqui, vai Guilherme. Me dá um abraço, vai! - Eu pedi, estendendo os braços em sua direção.
Ele me abraçou, e eu o apertei.
-Tô sentindo falta de uma coisa. – ele reclamou.
-O que?
-Você sabe que é meu cigarro. Não consigo passar 24 horas sem fumar pelo menos um.
-E eu não compenso?
-Eu sou um viciado. Esqueceu?
De repente, uma lágrima escorreu por meu rosto. Guilherme a secou.
-O que foi, Malu? -Eu fico pensando, você tá se destruindo, Guilherme! Olha pra você! Sua pele tá ficando enrugada, e você tem 16 anos ainda. Seus dentes, estão começando a amarelar. Parece que você não toma banho. Você está acabando com você mesmo. Não entende isso?
Ele ficou quieto, e abaixou a cabeça.
-Sabe, eu acho tão desnecessário, tão opcional. Você não precisava estar passando por isso.
-Eu até queria parar, mas quando você entra, não sai mais.
-Mas isso é tão fácil! Se você quisesse mesmo se recuperar, falava com seus pais, eles colocavam você em uma clínica e pronto, você se recupera.
Ele continuou quieto. Ele sabe que tudo que eu estou falando é verdade. Eu sei que ele não quer ficar no mundo das drogas.
-Uma hora, a polícia vai te pegar. E vai ser pior. Pra você e pra quem te ama.
-Mas agora eu to numa pior. Comecei no crack. É tão viciante!
Eu gelei. Crack é a pior droga do mundo.
-Guilherme, não acredito! – eu comecei a chorar novamente. – Você precisa se internar!
-Não preciso. Quando eu uso crack, me sinto no paraíso.
-Desde quando você usa isso?
-Pouco antes de te conhecer.
-Com que freqüência você usa crack?
-Todo dia, umas duas, três vezes.
Eu me senti sem chão. Guilherme não vai parar tão cedo. Ele vai morrer. Eu só sabia chorar.
-Malu, tenho que ir. Beijo, até depois. Não esquece de mim.
-Beijo.
No momento, não sentia mais nada além de medo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário